A ENCENAÇÃO
no Séc. XX
A noção de encenação é recente, ela data apenas da
segunda metade do século XIX e o emprego da palavra remonta a 1820. É nesta
época que o encenador passa a ser o responsável “oficial” pela ordenação dos
espetáculos. Anteriormente, o ensaiador ou, às vezes, o actor principal é que
era encarregado de se auto dirigir. Uns dizem que a encenação começou com a
implementação do primeiro actor em cena, por Thespis, e outros afirmam que
começou com a implementação do advento das novas tecnologias (maquinarias,
luz…).
A encenação e o conceito de encenador surge na segunda
metade do séc. XIX, e tem o seu auge no séc XX. É neste seculo, que apareceram
os grandes encenadores teatrais com o advento das vanguardas artísticas. Ainda
Neste mesmo século, e com as preocupações como as de André Antoine surge o
primeiro curso de encenação e a figura do encenador.
Os encenadores evoluíram os seus pontos de vista para uma lúcida crítica
das forças socias em desigualdade. Desse modo, pensar na encenação do séc. XX é
pensar no homem e no seu contexto politico e social, concebendo o lugar comum a
respeito da solidão e da incomunicabilidade humanas. O engajamento político de
alguns dramaturgos e encenadores, por exemplo, estabeleceu que reivindicou a
criação de um teatro capaz de posicionar o homem contemporâneo em seu próprio
contexto histórico. O pressuposto era abrangir uma linha que exprimisse as
relações socias, ou seja, retratar o homem na sociedade em detrimento do homem
com ele mesmo, em uma nítida prática individualista, ou até mesmo, num
posicionamento religioso (homem com Deus). Portanto o que estava em questão era
a inserção de personagens condicionados a um contexto político e social, tal
qual a concepção do alemão Erwin Piscator que, para tanto, utilizou em suas
encenações projeções gráficas, estatísticas legendas e documentários.
O dramaturgo Luigi Pirandello (1880-1947) promoveu o condicionamento
humano a contextos políticos e socias de maneira mais sutil.
Enquanto Meyerhold, entendia que o objetivo
do teatro era o de tornar a plateia, ou seja, o público o co-criador do drama.
Desse modo desenvolveu um estilo próprio de vanguardismo, estabelecendo o
domínio da razão. Gestos e movimentos eram calculados meticulosamente,
adquirindo significados simbólicos - era a biomecânica. Esse método de
encenação foi apresentado pela primeira vez em 1918.
Esse importante director e teórico do teatro da primeira metade do séc.
XX utilizou, em suas peças, a projeção de filmes o jazz e a concertina; o ritmo
das máquinas, dos motores e rodas em movimentos foram acelerados e o cenário
foi composto com estrutura de metal. Ao longo das primeiras fileiras da plateia
disposta em cena, posicionou figurantes a correr. Andaimes eram escalados, e
por escadas de cordas, os actores escorregavam. Sua ideia era romper com
qualquer lastro burgues que, porventura tivesse sobrado após a revolução.
Durante a acção biomecânica, Meyerhold vestia os actores com
macacões-uniformes, pois nada deveria distrair a atenção do público nem mesmo a
acção dos actores. Sua concepção na encenação era anti ilusionismo, marcado
pela improvisação de um teatro cujo apelo politico-ideológico se fazia
presente. Meyerhold levou ao extremo a técnica de expressão corporal, pois seus
actores eram também acrobatas e dançarinos. Essa sua biomecânica garantiu que o
progresso técnico aperfeiçoasse o instrumento cénico.
A encenação nasce assim de uma necessidade técnica e científica.
Tal como definia o grande encenador Jacques Copeau, a encenação, é a passagem
de uma vida espiritual e latente, do texto escrito, a uma vida concreta e
actual, o da cena.
A encenação se assemelhava a uma técnica rudimentar de
marcação dos actores. Esta concepção prevalece às vezes entre o grande público,
para quem o encenador só teria que regulamentar os movimentos dos actores e das
luzes. O surgimento do encenador na evolução do teatro é significativo de uma
nova atitude perante o texto dramático: durante muito tempo, na verdade, este
apareceu como o recinto fechado de uma única interpretação possível.
Hoje, ao contrário, o texto é um convite a buscar seus
inúmeros significados, até mesmo suas contradições; ele se presta a novas
interpretações. O advento da encenação prova, além do mais, que a arte teatral
tem doravante direito de cidade como arte autônoma. Sua significação deve ser
buscado tanto em sua forma e na estrutura dramatúrgica e cênica quanto no ou
nos sentidos do texto. O encenador não é um elemento exterior à obra dramática:
"Ele ultrapassa o estabelecimento de um quadro ou a ilustração de um
texto. Toma-se o elemento fundamental da representação teatral: a mediação
necessária entre um texto e um espetáculo.
O ENCENADOR É UM CRIADOR, CIENTISTA É UM
“AJUDANTE DE DEUS”
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