segunda-feira, 4 de junho de 2018

Teatro da Aproximação, Não-aproximação, Distanciamento e do Não-distanciamento


Foto extraída da obra Antígona representada pelos estudantes de teatro do ISART


INTRODUÇÃO
Alicerçado em termos dos efeitos de aproximação e distanciamento, este estatuto utiliza quatro teatrólogos e suas estéticas teatrais como exemplo do que poderia ser chamado de
Teatro da Aproximação, Teatro da Não-aproximação, Teatro do Distanciamento e Teatro do Não-distanciamento. São eles, respectivamente: Antonin Artaud e o Teatro da Crueldade; Constantin Stanislavski e o Teatro Psicológico; Bertolt Brecht e o Teatro Épico e; Vsiévolod Meyerhold e seu teatro construtivista.
Todos têm muita coisa em comum, apesar das diferenças, mas a semelhança mais importante para essa análise consiste em sua relação com o Teatro Psicológico. Stanislavski é o criador dessa estética, e, portanto, seu defensor. Os outros três estudados, porém, partem do princípio de que esse gênero é ineficiente, ou pelo menos insuficiente, para seus objetivos. Então, cada teatrólogo empenhará sua criação nos pontos respectivos de discordância com o teatro psicológico, o que produzirá três gêneros distintos.
Partiremos, então, para uma análise desses quatro gêneros, a partir dos elementos que os compõem.
TEATRO DA CRUELDADE

Na França, nos anos 20, dadaístas e surrealistas contestam os valores estabelecidos. Apontam como seu precursor Alfred Jarry, que, no fim do século XIX, criou as farsas ligadas ao personagem absurdo do Pai Ubu. O grande autor dessa teoria é Antonin Artaud o principal teórico desse movimento, Essa teoria defende liberação das forças inconscientes da plateia
As principais diferenças do teatro da crueldade, Artaud pregavam o uso de elementos mágicos que hipnotizassem o espectador, sem que fosse necessária a utilização de diálogos entre os personagens, e sim muita música, danças, gritos, sombras, iluminação forte e expressão corporal, que comunicariam ao público a mensagem, reproduzindo no palco os sonhos e os mistérios da alma humana. Hoje reconhecido como um profeta do teatro, Artaud deflagrou a Indústria Cultural no teatro, além de questionar o teatro discursivo.
TEATRO ÉPICO

Tomando como ponto de partida o trabalho de Piscator, que lutava por um teatro educativo e de propaganda, o alemão Bertolt Brecht propõe um teatro politizado, com o objetivo de modificar a sociedade.
Os principais iniciadores foram o diretor russo Meyerhold e o diretor teatral alemão Erwin Piscator. Outros autores épicos e seguidores de Brecht são os suíços Friedrich Dürrenmatt ”A visita da velha senhora” e Max Frisch ”Andorra”, e os alemães Peter Weiss ”Marat/Sade” e Rolf Hochhuth ”O vigário”. Na Itália, Luigi Pirandello ”Seis personagens à procura de um autor” antecipa a angústia existencial de Jean-Paul Sartre ”Entre quatro paredes” e Albert Camus ”Calígula”.
O "Épico" é um adjetivo que se refere a algo que relata em versos uma ação heróica. No teatro grego antigo, base do teatro ocidental, temos os heróis e suas histórias, seus feitos...
O teatro épico, substitui o realismo psicológico por textos didáticos, comprometidos com uma ideologia de esquerda. Afirmando que, em vez de hipnotizar o espectador, o teatro deve despertá-lo para uma reflexão crítica, utiliza processos de “distanciamento”, que rompem a ilusão, lembrando ao público que aquilo é apenas teatro e não a vida real.

TEATRO PSICOLÓGICO

O grande autor dessa teoria foi Constantin Stanislavsky. Esta teoria defende dois lados: o trabalho do actor sobre si mesmo (em um processo criador das suas vivencias e no processo de encarnação) e o trabalho do actor sobre seu personagem. A primeira parte se estabelecem os princípios fundamentais com relação a esfera interior do actor (vivencias) e o desenho exterior do personagem (encarnação); enquanto a segunda aborda o trabalho sobre o texto dramático.
            Umas das principais diferenças com outras teorias Tem haver com o objetivo do trabalho interno do autor, em poder alcançar estados emocionais autênticos e não fingidos
O trabalho de Stanislavski é classificado como um método puramente psicológico, reforça a importância da integração de todos os aspectos humanos: corpo, razão e espírito.
Para Stanislavsky Toda criação da imaginação do ator deve ser minuciosamente elaborada e solidamente erguida sobre uma base de fatos. Deve estar apto a responder todas as perguntas (quando, onde, porque, como) que ele fizer a si mesmo quando inicia suas faculdades inventivas a produzir uma visão, cada vez mais definida, de uma existência de ‘faz de conta’. Algumas vezes não terá de desenvolver todo esse esforço consciente, intelectual. Sua imaginação pode trabalhar intuitivamente. Mas (...), por experiência própria, não se pode contar com isso. Imaginar em geral, sem um tema bem definido e cabalmente fundamentado, é um trabalho infrutífero.
Os Objetivos – Gerais e Específicos
Stanislavski acreditava que, cada objetivo deveria trazer dentro de si a semente da ação. Os objetivos dentro de uma encenação adquirem diversas funções. Podem estar: a serviço de uma unidade, de maneira geral; em função das necessidades de cada personagem, de maneira específica; ou, a serviço da encenação como um todo, como um superobjetivo. Esses podem se contrapor, através das ações que estão a seu serviço, gerando reações e desencadeando novas ações.
Stanislavski relaciona três tipos de objetivos:
1)      Exteriores ou físicos – através de uma ação mecânica comum, como pegar uma casca de banana no chão;
2)      Interior ou psicológico – através de toda uma circunstância psicológica por trás da ação, como alguém que pega um determinado objeto e relaciona a ele a lembrança de um parente falecido;
3)      Psicológico rudimentar - um objetivo comum com uma implicação emocional, acenar com a expressão de afeto, por exemplo.
 
O TEATRO CONSTRUTIVISTA
O teatrólogo russo Meyerhold foi o escolhido para exemplificar uma estética teatral que mantenha com seu enunciador uma relação de não-distanciamento. Ou seja, que negue o distanciamento entre encenação e plateia, mas não chegue a afirmar a aproximação artaudiana, na qual a plateia faz parte da encenação.
Meyerhold começou sua carreira no Teatro de Arte de Moscou, como aluno de Stanislavski. Farto do naturalismo, vai em busca do futurismo, impressionismo, cubismo e expressionismo alemão. O teatro de Meyerhold tem o objetivo de reestruturar a realidade, e para isso utiliza elementos absurdos e quebras na lógica de seus trabalhos.
Usando a imaginação, a plateia deve preencher as lacunas deixadas na encenação, passando da simples contemplação do Teatro Realista/Naturalista ao ato criador. Assim, a encenação deixa de ser uma cópia do real e se torna uma reflexão sobre a realidade. Elimina-se a quarta parede, possibilitando a relação entre enunciador e enunciatário, forçando o espectador a reestruturar a realidade.
Meyerhold dispensa o proscênio pela primeira vez e substitui o palco plano por uma espécie de palco em diferentes níveis, sem cortinas frontais ou cenários móveis. O cenário Meyerholdiano ganhou a presença de máquinas, andaimes, discos giratórios, trapézios proporcionando uma nova ambientação.
Devido a essas modificações cenográficas, a iluminação tem papel importantíssimo. É a luz da cena que determina a mudança entre os diversos ambientes formados nessa nova arquitetura do espaço cênico.
Quanto ao texto escrito, o teatro de Meyerhold luta pela desverbalização no teatro. Seu objetivo é utilizar a pantomima e o folclore em uma cena estilizada, simples e mais próxima do povo.
Os atores devem vestir e operar toda essa mecanicidade com movimentos mecânicos ou acrobacias. Para Meyerhold, a verdadeira expressão cênica é realizada não por palavras, mas por gestos, olhares, passos, atitudes, ou seja, pela expressão corporal. Na sua concepção, o ator tem que executar o máximo de movimentos em um mínimo de tempo de reação possível, indo contra a expressão dos estados da alma do Teatro Psicológico. Nessa estética, o ator é o agente fundamental da cena.
Assim, o teatro concebido por Meyerhold mostra-se como oposto ao de Stanislavski, ou seja, seu termo contrário. Toda a encenação é voltada a técnicas não ilusionistas, em constante contacto com a plateia, que deveria funcionar como um dos criadores activos do espetáculo. Essa estética enquadra-se no não-distanciamento, pois se opõe à distância preconizada entre encenação e plateia, mas não chega a aproximá-las de forma tão profunda como o Teatro da Crueldade. O teatro meyerholdiano vai em busca de uma simplificação que atinja o povo de forma ativa. As encenações poderiam ocorrer em teatros, cujos espaços cênicos seriam modificados, ou em feiras livres. Os atores eram quase que performáticos e a verbalização, diminuta. Não há o cenário realista. A plateia é convidada a cobrir as lacunas do espetáculo com sua imaginação, mas também com vaias, aplausos, chegando a fazer parte do coro em alguns espetáculos. Há entre espectador e encenação uma relação frontal, que nega o distanciamento.
            Assim, uma alteração importante na relação entre atores e espectadores ocorre entre o teatro da não-aproximação e o do não-distanciamento. O público, treinado por anos a permanecer em um silêncio estático, é estimulado a criar e a se manifestar. O teatro passa a ser um espaço de discussão política e comunhão entre encenação e plateia.        
 
CONCLUSÃO
·         Artaud (aproximação) teatro de Crueldade
·         Brecht (distanciamento) teatro Épico
·         Meyerhold (não-distanciamento) – teatro de não Distanciamento
·         Stanislavski (não-aproximação) – teatro Psicológico

O teatro artaudiano é o teatro da aproximação, pois chega a considerar a plateia como elemento cênico. O teatro de Stanislavski é o da não-aproximação, pois nega a aproximação entre encenação e plateia quando impõe a quarta parede, mas não chega ao distanciamento, pois estabelece a identificação da plateia. O teatro de Brecht é o teatro do distanciamento, pois utiliza recursos para afastar a plateia da encenação evitando qualquer espécie de troca ilusionista. O teatro de Meyerhold é do não-distanciamento, pois nega o distanciamento ao organizar-se em torno da participação criadora da plateia na encenação, mas não chega a apresentar uma estética da aproximação por não
compartilhar sensações viscerais e não considerar a plateia como elemento cênico.











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